Os Rituais
Para que servem os rituais no Vale do Amanhecer?
Para responder isto, recorreremos a trechos de uma carta de nossa Mãe, escrita no ano de 1980, denominada A Força da Cabala. Reproduzimos as seguintes partes:
A Força da Cabala
O mundo inteiro ou todos os homens do mundo não conseguem o que sete homens na força cabalística podem fazer. E no Vale do Amanhecer tudo é cabalístico. Por conseguinte, tudo é possível aqui.
Vamos pensar o que é um trabalho cabalístico. Cabalístico é trabalho de cabala, trabalho de ritual, de gestos e cantos. A elevação do doutrinador é um ponto cabalístico. Quero deixar bem claro que me refiro à Cabala de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não temos outra. Porque, filho, todo o encanto de nossa Magia existe somente enquanto pensamos no bem, concentrado nas três palavras: humildade, tolerância e amor. Se sairmos destas palavras, nada temos.
Analisemos com calma estes dois trechos. No primeiro, Tia Neiva explicita a capacidade da força cabalística, dizendo que o mundo inteiro não consegue fazer o que 7 homens na força cabalística são capazes de realizar, e enfatiza que tudo no Amanhecer é cabalístico.
No segundo parágrafo, ela define o que representa o termo cabalístico no Amanhecer. "Cabalístico é ... trabalho de ritual, de gestos e cantos".
Tendo isso em mente, podemos dizer que a Tia molda a Doutrina do Amanhecer segundo essa premissa. A força cabalística é algo com muita potência de realização. E a força cabalística se dá pela realização de rituais, de gestos, cantos.
Contudo, em seguida, ela faz uma restrição importantíssima para a nossa ritualística. Vejamos:
Quero deixar bem claro que me refiro à Cabala de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não temos outra.
Perceba, não basta que a nossa cabala seja executada, ou seja, não bastam que os rituais sejam executados, é preciso que eles estejam atrelados a Jesus. Continuemos:
Porque, filho, todo o encanto de nossa Magia existe somente enquanto pensamos no bem, concentrado nas três palavras: humildade, tolerância e amor. Se sairmos destas palavras, nada temos.
Aqui ela condiciona todos os nossos rituais, toda a força cabalística, toda potência de realização de nossos trabalhos ao pensamento no bem, fundamentado no evangelho de Jesus. De modo que se sairmos dele, nada temos.
Mesmo que conceitualmente isto seja muito simples de compreender, na prática, não necessariamente é o que ocorre conosco. Para explicar isto, recorro a uma classificação dos nossos rituais que descrevo abaixo.
Sabemos que o Vale é profundamente simbólico e ritualístico. Toda a nossa estrutura física é simbólica. Nosso templo, nossas indumentárias e nossos rituais. Contudo, há tipos diferentes de rituais e símbolos no Amanhecer.
Por exemplo, há rituais que denotam a transformação do Jaguar, de um homem velho, embrutecido para um homem novo, evangelizado e espiritualizado. O símbolo é o da transformação. Para este tipo temos as nossas iniciações: a própria iniciação Dharman-Oxinto, a Elevação de Espadas, a Centúria, etc.
Há, por exemplo, outro tipo de ritual: o de preparação do ambiente físico/espiritual. Nestes se encontram as jornadas, típicas de início de trabalho. Exemplo são o coroamento na Estrela Candente, o ritual inicial da Unificação ou do Quadrante, a jornada da Cruz do Caminho, a emissão de mantras antes do início do angical, etc.
E, por fim, chamamos também de ritual determinadas estruturas necessárias para a manipulação específica de energias em um trabalho, por exemplo: a formação e ordem de emissões em um alabá, em um abatá, a ordenação intercalada dos médiuns e formação de corrente na indução; a formação específica para o Randy, etc.
Poderíamos continuar a determinar outros tipos de funções que temos em nossa ritualística, contudo o objetivo aqui é outro.
O problema que queremos levantar é o risco que temos, quando elevamos os nossos rituais ao ponto alto ou central da doutrina.
Quando estamos imersos em todas essas estruturas as quais chamamos de rituais e que fazem parte de nossa identidade cabalística, é muito fácil esquecermos do nosso principal motor: o pensamento no bem fundamentado no evangelho, como disse Koatay 108. E se esquecemos, nos concentrando única e exclusivamente no ritual, nos tornamos mecânicos, e nada fazemos.
É claro que a espiritualidade não nos cobra uma maturidade sobre isso no início de nossa jornada. Mas com o passar do tempo, é esperado que tenhamos esta consciência, ou seja, de que nossa organização cabalística, nossos rituais, nossos símbolos formem uma ferramenta poderosa, mas não sejam a finalidade em nossa doutrina.
Não estamos aqui para fazer rituais, estamos para curar e sermos curados. A estrutura cabalística nos ajuda na conexão com a espiritualidade maior, mas sem o pensamento orientado no bem, ele é somente um conjunto de ritos, gestos e cantos vazios.
Para corroborar o que digo, trago um recorte de uma entrevista do Trino Jaruã, mestre Bálsamo, em que ele relata a divergência entre a Tia Neiva e Pai João de Enoque sobre a necessidade da escrita de um Livro de Leis.
Peço que o leitor asssista, por favor, o trecho em recorte.
Neste relato, o Trino Jaruã diz claramente o receio que Tia Neiva tinha de se perder a espontaneidade do médium em um ritual, caso se escrevesse um livro de leis. Um livro de leis obviamente tornaria as coisas mais rígidas e, como dissemos, o perigo de tornar o comportamento dos médiuns em algo mecânico seria muito maior. Falaremos sobre esta divergência entre a Tia e Pai João em nosso próximo texto, onde discutiremos a necessidade da escrita do livro de leis e as distorções que vivemos atualmente.