Retiro
Na abertura do segundo intercâmbio, João abriu o Evangelho e escolheu a esmo o seguinte trecho para a sua leitura:
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas. E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.
Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda. E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina;
Terminada a leitura, o comandante levantou os olhos e viu o templo inteiro à espera de seu comentário. Era um dia de casa cheia, de modo que o comandante sentiu a pressão que o momento lhe infligia. Respirou profundamente, tentando encontrar algum pensamento que lhe ajudasse a construir algo que realmente valesse à pena dizer, naquela abertura de trabalho. Passados alguns poucos segundos, lhe veio a intuição, soprada por aqueles que nos amam realmente: "fale por partes..."
Assim, João abriu a sua boca e começou a dizer:
Meus irmãos, Salve Deus!
Este ensino de Jesus é muito importante para nós do Vale do Amanhecer. Isto porque esta mensagem nos traz o caminho de nossa evolução. Muitos de nós, aqui, já fizeram a nossa Iniciação Dharman-Oxinto, não é? Dharman-Oxinto tem essa representação do Caminho a Deus, da evolução a Deus...
Pois bem, na primeira parte deste texto, o Divino Mestre, nos assegura o que devemos fazer para evoluirmos. Ele nos diz: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas."
Jesus é bem claro nisto. É preciso tratar os que nos cercam, da exata forma em que queremos ser tratados. E isto se contitui na maior lei espiritual que nos rege.
E o Mestre continua: "E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem".
O que Jesus quer dizer com isto? O processo de transformação que nos leva à evolução espiritual, ou "caminho à vida", é algo difícil, por isso poucos a encontram. Este caminho a Deus é algo interno, de transformação individual, não é algo externo.
O templo, os nossos trabalhos têm várias funções. A primeira e mais explícita é de auxílio aos pacientes e espíritos que nos são confiados. Mas uma das funções de nossos trabalhos é o ensino do amor ao próximo para nós, médiuns. O Divino Mestre assevera que a maior lei é esta que dissemos. Então, cada vez que vamos a esta Mesa Evangélica que está aqui na frente, quando vamos aos tronos e a outros setores de trabalho, isto se constitui numa oportunidade de aprendizado.
Quando falamos para um espírito sofredor perdoar, este ensinamento deveria surtir efeito em nossa consciência e em nossas ações no cotidiano de nossas vidas. Ora, como posso orientar algo que eu mesmo não pratico? Quando vamos aos tronos, por exemplo, como um médium Apará pode ser o vaso perfeito para a comunicação do céu, se ele não se esforça durante a semana para ter uma vida correta e honesta, exemplificando aos espíritos superiores e sofredores sua dedicação como intermediário divino?
Os nossos trabalhos estão aí para auxiliar os que sofrem e nos ensinar a evoluir. Não basta que executemos, como bons soldados, os rituais, se eles não nos tocam a mente e o coração para o caminho estreito que leva a Deus.
João fez uma pausa para refletir no que ele próprio dissera e percebeu que estava sendo usado pela espiritualidade. Olhou a todos e continuou:
Voltando ao sermão de Jesus, após a primeira parte, ele vem nos alertar que devemos ter cautela com os falsos profetas, e os identifica através de suas ações. E nos ensina como uma comparação simples, típica do Mestre: "Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz frutos bons, e toda a árvore má produz frutos maus."
Esse é outro ensinamento absurdamente importante para nós, doutrinadores e aparás. No início de nossa caminhada, quando estamos no desenvolvimento, temos uma amiga que nos faz humildes e abertos a transformação que o Vale do Amanhecer nos oferece: essa amiga é a dor.
Aliado a isso, temos um sentimento que é inerente a todos, o desejo de conhecer, aprender e evoluir. E o desenvolvimento nos dá essa condição. Primeiro queremos emplacar, após iniciar e assim sucessivamente até a centúria e o curso de sétimo. Contudo, quando alcançamos estes estágios finais e somos centuriões, em tese, preparados para todos os trabalhos do Amanhecer; muitas vezes podemos ser engolidos pelas relações que criamos neste micro-mundo chamado Vale do Amanhecer. Explicarei.
Após a centúria, desejamos nos inserir no mundo iniciático que a doutrina nos oferece. Contudo, não temos mais aquele ambiente dos primeiros dias. É nesse momento que podemos nos colocar como árvores boas ou árvores más, verdadeiros ou falsos profetas, como disse o Cristo.
Haverá aqueles que executam os trabalhos tendo em mente aqueles dois objetivos: a ajuda aos que sofrem e se colocando como aprendizes, na prática, do evangelho, isto é, tentando educar suas ações. Esses produzirão bons frutos.
Contudo, haverá outros que se preocuparão essencialmente com outras coisas. Normalmente, colocarão suas posições, suas classificações, seus cargos, suas responsabilidades, a possibilidade de ganharem dinheiro no topo de suas preocupações. A chance destes produzirem frutos maus, ao meu ver, é bem maior que a dos anteriores.
Nos acautelemos, meus irmãos, daqueles que dizem estar junto a Jesus, mas que suas ações dizem exatamete o contrário. E nos perguntemos diariamente o porquê de estarmos nessa doutrina. Se para termos e conservarmos nossa posição ao sol ou se estamos aqui para aprendermos a amar o próximo.
Neste momento, adentra uma mulher pela porta do templo, maltrapilha e aos prantos, gritando por socorro; e João diz: