Amor, Humildade e Tolerância
Mateus 5:3
Sem o conhecimento da maioria dos médiuns, fora marcada para aquela noite de sexta-feira uma reunião na Casa Grande para os primeiros da doutrina. Ali estavam reunidos Trinos Triadas Presidentes, Trinos Herdeiros, Trinos Regentes e Adjuntos de povos. A pauta da reunião era a resolução de problemas da doutrina.
Alheios a isso, os médiuns após o término do retiro saíam do templo em rumo de suas casas. Pedro foi o último a sair e, após dar os primeiros passos fora do templo, sentiu imediatamente dois impactos: o primeiro foi o do vento gélido que batia em seu corpo e o segundo foi o de ver um homem maltrapilho, quase nu, dormindo diretamente sobre o chão e naquele frio extremo. O pobre homem estava em um pedaço de chão entre a estátua do Cristo, que fica ao lado do templo, e a Estrela Sublimação.

Tocado com a situação, Pedro foi em direção àquele indivíduo de modo a socorrê-lo de algum modo. Agachou-se e, ao tentar acordá-lo, ouviu um rangido metálico vindo do seu lado esquerdo. Olhou rapidamente e viu um senhor simples, de fortes traços indígenas, vindo em sua direção, dizendo:
- Meu filho, a estátua de Jesus está caindo! Os parafusos que prendem a imagem no concreto estão se rompendo, tire esse pobre homem daqui porque pode haver uma tragédia! Tentarei evitar que a imagem caia, tire ele daqui!
Foi então que Pedro viu aquele senhor, de idade avançada, subindo sobre a base de concreto que prende a imagem do Cristo e empurrando a estrutura metálica com seus braços, de modo a evitar a queda. Percebendo a gravidade da situação, Pedro começou a puxar o homem pelo braço, calculando que se a queda da imagem de Jesus ocorresse, o homem com certeza receberia o seu impacto.
- Meu irmão, meu irmão, acorde! Vamos sair daqui! Você pode morrer!!
- Me deixe dormir! Quem é você?
- A imagem vai cair e nós vamos morrer, vamos sair daqui agora!
- Que caia! Minha vida não vale nada mesmo... Deixe-me em paz!
Vendo a iminência do desastre e a resistência daquele irmão, foi em socorro do velho que sustentava a imagem. Chegando ao seu lado, o ancião disse:
- Meu filho, chame os seus irmãos para me ajudar!
Enquanto isso, desde o início da reunião na Casa Grande, os primeiros da doutrina estavam em uma discussão acalorada sobre hierarquia e mudanças nos rituais. A reunião infelizmente não estava sob a mesma harmonia do retiro, a tônica era, essencialmente, política.
Alguns queriam alçar posições de maior poder e relevância, acreditando estarem prontos para a condução principal da doutrina, deslegitimando seus predecessores. Havia aqueles que enxergavam um aviltamento do Amanhecer por causa de pequenas mudanças nos rituais. Outros se sentiam ultrajados por serem escalados por médiuns mais novos.
Pedro, um ilustre desconhecido, saiu correndo em direção à Casa Grande em busca de ajuda. Chegou à porta e foi impedido de entrar pelo recepcionista, mas sua expressão era de tal desespero que o cavaleiro de Japuacy permitiu sua entrada. Esbaforido, Pedro interrompeu a reunião:
- Mestres, Salve Deus! A imagem do Caminheiro está para cair, há um idoso segurando a imagem e ela pode cair sobre um mendigo que dorme ali na frente! Precisamos da ajuda dos senhores!
Alguns não entenderam prontamente a informação por causa da interrupção repentina que Pedro promovera na reunião, de modo que ele teve que repetir o seu pedido:
- Mestres, é caso de vida e morte! Preciso da ajuda de todos vocês para evitar uma tragédia!
Um dos veteranos, preocupado, asseverou:
- Meu filho, leve o recepcionista que está na porta e chame a falange de Japuacy rapidamente para te ajudar.
Pedro saiu dali correndo, confiante que havia conseguido a ajuda de parte daqueles mestres, mas quando olhou ao redor só viu a companhia recente do recepcionista. Decepcionado, parou e olhou a sua volta. Após alguns segundos, viu um quadro de esperança: um grupo de emplacados descendo à frente do templo, era um grupo de cinco pessoas, 3 jaguares e duas ninfas.
Correndo, chegou a eles e explicou a situação. Os três jaguares subiram prontamente com Pedro para ajudarem a sustentar a imagem, enquanto as duas ninfas conseguiram retirar, enfim, o homem caído ao chão. O recepcionista, neste meio tempo, conseguiu ferramentas para que o velho índio pudesse apertar novamente os parafusos que sustentavam a imagem de Jesus e o perigo, finalmente, passou.
Todos ao chão, felizes, se abraçaram pelo sucesso da operação. Estavam todos bem e o risco, até há pouco iminente, realmente tinha passado. Após algumas palavras de agradecimento mútuo, se despediram e cada um seguiu seu caminho.
Pedro, agora sozinho, extremamente aturdido pelo ocorrido e pelo impacto das várias emoções que sentira, sentou-se em um banco de concreto à frente do Turigano e chorou copiosamente. Em sua mente, a imagem do perigo que o morador de rua viveu e a fortaleza daquele senhor lhe impressionavam profundamente. Mentalmente repetia a si mesmo:
- Deveria ter perguntado o nome daquele velho... deveria ter perguntado...
Levantou os olhos e o viu novamente chegando próximo a si.
- Senhor! Que bom que ainda está aqui! Queria te agradecer profundamente por tudo e saber o seu nome. Como se chama, por favor?
- Meu filho, entendeu o que aconteceu hoje aqui?
- Como assim?
- Nos momentos mais difíceis, sustentarei em meus braços a mensagem do Cristo. Mas ela somente permanecerá continuamente neste Amanhecer, se nos unirmos e nos mantivermos na simplicidade real do amor, da humildade e da tolerância. Assim o Cristo, pelas mãos dos jaguares, conseguirá doutrinar e curar aqueles que estão esquecidos pelo mundo. Mas eu, sozinho, não conseguirei fazer isso...
E sorrindo, a imagem do velho índio foi se desfazendo à frente de Pedro, dizendo:
- Meu filho, obrigado imensamente pelo que fez hoje... agradeço a Deus por eu ser, sim, o menor dos pais...
